sábado, 30 de outubro de 2010

O SUSPIRO DA OLIGARQUIA E A CAMINHADA HISTÓRICA DA LIBERTAÇÃO

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O resultado recente das urnas no Maranhão, sobretudo após o golpe judicial que impôs o comando do Estado à governadora biônica Roseana Sarney Murad requer uma análise mais aprofundada, desprovida de utopias e vanglórias, sentimentos antagônicos mais afinados, respectivamente, com idealistas e oportunistas.

Prevaleceu, de fato e até aqui de “direito” a influência dos usurpadores e sanguessugas do poder, useiros e vezeiros em práticas despudoradas, entre elas fraudes eleitorais sustentadas nos abusos políticos e econômicos, geralmente impunes.

Tripudiou-se mais uma vez sobre a vontade dos homens e das mulheres livres da nossa terra histórica e cruelmente explorada, não obstante breves hiatos de lucidez e compromissos com os destinos do Maranhão a cargo de mandatários legítimos.
Daí explicar-se tão pequena celebração pela “vitória” desenxabida, sem calor humano, sem cheiro de povo. Quanta diferença do que foi visto, sentido, vivenciado coletivamente em outubro de 2006, na praça Maria Aragão, em todas as ruas e vielas de São Luís e dos mais diversos rincões do Estado!

Quem marcou aquelas festas? Certamente não foi a organização do Marafolia. Quem divulgou aquelas magníficas explosões de felicidade? Sem a menor dúvida, não foi o Sistema Mirante!

Quem viu alguma manifestação popular espontânea neste outubro de 2010? Talvez tenham ocorrido comemorações íntimas entre os membros da corte. No Calhau ou em Curupu, deve ter jorrado champagne, whisky, vinhos importados e coisa e tal e tal e coisa..., com direito até a uma palhinha da querida “Marrom” (Alcione).

Não se ouviram sinais de euforia entre os moradores do João Paulo, da Vila Itamar, do Anjo da Guarda, ali perto do Porto do Itaqui, na Capital Maranhense, por exemplo. Ninguém soltou foguetes na Beira-Rio, em Imperatriz etc.

Esta discrepância entre a repercussão da “conquista” do clã ensimesmado, salpicada de denúncias de derrame de dinheiro e indícios de ilegalidades em várias facetas e a apoteótica vitória popular com Jackson Lago serve muito bem de base no contexto dessa reflexão.

Sabe-se através de gerações que oligarquias, ditaduras ou quaisquer outros regimes autocráticos não sobrevivem aos verdadeiros e inexoráveis crivos do tempo e da história. É quando a verdade vem à tona, nua e crua.
A avaliação do tempo principalmente porque, de forma invariável, a praga do continuísmo espúrio inibe o menor estímulo à valorização do ser humano e muito menos ao desenvolvimento socioeconômico, tecnológico e científico sustentável e permanente.

A avaliação da história porque esta, sim, é implacável para com os déspotas e jamais confirma a versão dos “vitoriosos”, como se julgam os “eternos” senhores feudais. Novamente fala mais alto a ética, a dignidade, o senso de responsabilidade, o interesses público, a devoção ao bem-comum. Impõe-se a versão dos que primam pela honestidade, dos que cultivam a verdade e princípios nobres pautam seus ideais, suas ações e balizam seus valores. E, com toda certeza, oligarquias e ditaduras não se encaixam nestes parâmetros. Não podem, portanto, resistir à determinação histórica.

A certeza da derrota inevitavelmente causada pelo passar do tempo aterroriza os tiranos. E a fatídica exposição dos desmandos e crimes cometidos que a análise histórica conduz curva a frágil espinha das canhestras camarilhas que saqueiam o patrimônio coletivo e violentam a natureza e o meio ambiente.

É o suficiente para que elas baixem a crista e as suas vitórias ilegítimas se tornem libelos acusatórios. Consume-se o último brigadeiro do final de uma festa de décadas. Último doce sobre a mesa, mas este com sabor amargo de quem tem a casa para arrumar após a farra, a ressaca moral para curtir depois da orgia de poder...

Embriaguez e ressaca do dinheiro público, esbaldados no alheio celebram sem graça a última dança ao final do baile que deram para si. Tempo e História impiedosos com os tiranos. Celebração triste, vitória sem festa. Conquista sem brilho.

Por outro lado, os supostamente derrotados, nas suas trincheiras continuam a sua boa luta.
As oposições, mais do que nunca devem se unir. No caso recente, as vis e injustas acusações infringidas a Jackson Lago e Flavio Dino não passaram despercebidas.

José Reinaldo, Roberto Rocha, Edson Vidigal, Othelino Neto e outros homens de caráter e vocacionados para os ideais republicanos não estão em casa contabilizando suas possíveis perdas. Pelo contrário. A rota antes parecida, haverá de se tornar comum, reconhecendo-se suas semelhanças nos ideais em defesa da liberdade, do desenvolvimento sustentável e da justiça social. Nos compromissos elevados com o Maranhão e as suas gerações futuras. Vida com qualidade para todos (nunca mais para uns poucos) deve continuar sendo a palavra de ordem.

A esperança de um esfacelamento e da colisão dos libertadores, uns contra os outros, deverá ser inútil. Os novos líderes balaios têm muita coisa em comum. Muito desejo político de servir à sua terra. Estão mais maduros.

Manter as consciências críticas e os núcleos de base atuantes, incólumes diante do germe do mal, conquistando novos parceiros, tantos quantos forem possíveis é uma questão de honra. Unir, agregar valores! Somar esforços. Cerrar fileiras, batalhar juntos, é o caminho mais seguro a trilhar.

Não há por que se contrapor à união de eventuais adversários nos meios. Dificultar que eventuais divergências se dissipem e os bem intencionados se deem as mãos em favor de um Maranhão grandioso.

Partidos de esquerda ou não, desde que sejam constituídos por homens e mulheres honrados podem estar nas mesmas fileiras já em 2012, nos 400 anos de nossa São Luís amada. Muito mais pólos de lutas democráticas e populares devem ser estimulados. Vermelhos ou não, mas determinados em construir, solidariamente, a terra dos nossos sonhos, onde a felicidade seja partilhada entre todos os maranhenses.


LIÇÃO ARGENTINA I

Juan Domingo Perón: a maior influência política argentina do século passado teve tal domínio sobre os sistemas e a organização política de seu País que deixou como sucessora na presidência sua simpaticíssima esposa Eva Perón. Mas, como aprendeu Eva e como a oligarquia maranhense deveria saber, simpatia e maquiagem não garantem a manutenção do poder. A alternância não tardará de novo no Estado. Há de chegar a galope em 2014.

LIÇÃO ARGENTINA II
Já nos funerais de seu marido Néstor Kichner, a Presidente portenha Cristina Kirchner enfrentava sofrível avaliação popular. Fortes articulações políticas desfavoráveis. Franca perda de espaço de poder. Ainda assim, equivocadamente, proibiu a entrada de adversários políticos para um último adeus a Néstor. Respeitando o luto, dor só conhecida pelos que a sentiram na alma, fica o exemplo histórico.

Os potentados estaduais não têm, além do seu guru, um nome sequer que aglutine. Enquanto isso, se as oposições somarem esforços, de modo amadurecido e consciente de suas responsabilidades públicas, estarão suficientemente fortalecidas para dar um basta na tragédia maranhense dos dias atuais.

sábado, 16 de outubro de 2010

O “FICHA LIMPA” E O “DORME SUJO”

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Acredito que, vivendo em nossa Pátria Amada Maranhão, todos conheçam a expressão: “Dorme Sujo”. Mas, para algum desavisado peregrino que por estas paragens se encontre vagando ou para estas abençoadas terras tenha migrado, explico: “Dorme sujo” é o mendigo, o sem-teto, o pedinte!
Assistimos e lemos as notícias, no caso da Lei da Ficha Limpa, cada vez mais atarantados com a diferença entre as decisões das cortes a respeito de casos tão semelhantes. É bem verdade que, se questionados tecnicamente, estes magistrados defensores ou promotores de tais veredictos teriam gravíssimas objeções a estas afirmações de desigualdade de pesos e medidas. Baixariam à mesa todas as cartas magnas e mínimas escritas em bom “legalês”, idioma do qual não entendemos nada, nem nunca poderemos, por um simples fato: Não têm sentido!
Como entender que, em um País, onde a democracia tenta se consolidar, fincar raízes, criar instituições sólidas e confiáveis, decisões discrepantes mantenham no poder alguns, que por serem abastados ou nobres senhores feudais, íntimos das cortes, permanecem em seus cargos. E retirem outros por simbolizarem a mobilização social, a revolução popular e inevitável mudança dos tempos.
E querem que chamemos a isso Justiça Federal!
Vivemos o Maranhão, por exemplo, uma situação sui generis em nosso País, o tempo das nomeações de prefeitos, governadores e deputados, símbolos-mor do poder totalitarista, há muito ultrapassado no Brasil e superado em nossa democracia, tem no Maranhão sua renascença.
O poder constituído, no plano Federal, com seu judiciário, supostamente independente, nos deu uma governadora biônica!
Se para nós, assíduos leitores de colunas políticas, blogs, também expectadores de telejornais e assinantes de revista, tais decisões são incompreensíveis. O que dizer do pedinte da porta do Banco do Brasil, da Praça Deodoro? O que será compreendido pelo vendedor de bombons no ônibus da linha Vila Luizão/Rodoviária? E por aqueles meninos no retorno da forquilha? Qual o significado de tanto empavonar de vestes talares de juízes federais?
A grande verdade é que nossas “Cortes” superiores não têm conseguido convencer a opinião pública da legitimidade e imparcialidade de suas decisões. E a forma atabalhoada com que novas leis são votadas e implantadas desgasta ainda mais essa já maculada imagem do Magistrado brasileiro.
Os formadores de opinião não se entendem, tampouco os líderes políticos e nem mesmo os bacharéis chegam a uma conclusão de como casos tão semelhantes podem ser julgados com tanta diferença. Algumas vezes com tamanho rigor e outras com desmesurada parcimônia. Como esperar então que o retirante de Zé Doca, de Mirador, de Araioses e tantas outras regiões do Estado, que chega diariamente em nossa capital e consegue precariamente hospedar-se com sua família nos conglomerados urbanos que se agigantam, mal conseguindo com suas aposentadorias comprar o alimento que os mantenha vivo, como esperar que tal homem ou tal mulher compreenda a cassação de Jackson Lago e a cegueira jurídica do Ministério Público que deveria manter seus olhos sobre Roseana Sarney, entre outros?
Será este tão badalada e aclamada popularmente lei da “Ficha Limpa” apenas mais um mecanismo de manobra? A pressa com que foi criada e aplicada, ignorando as prerrogativas da Constituição Federal de aplicação das leis é indício de tal.
É obvio que todo brasileiro, honesto e coerente, será sempre favorável à implantação de leis efetivamente moralizadoras. Entretanto, nos causa espanto, neste caso, a forma da sua aplicação, “às carreiras” em bom maranhês. A verdade é que parece muito mais uma indicação de bruxas a serem queimadas do que uma análise de mérito de causas.
E é a partir deste ponto da reflexão que me pergunto:
Se as pessoas que discutem política no Maranhão, que analisam cenários, que escrevem ou lêem jornais, não conseguem aceitar ou compreender tais decisões do Judiciário: qual será de verdade o significado de “Ficha Limpa” para um “Dorme sujo”?

TATÁ E LOURO
Some a saga da aplicação extraordinária da lei da Ficha Limpa em tempo recorde e método questionável: a incompreensível regra da proporcionalidade nas eleições para Deputado. Entre em algum rincão de Santa Rita ou outro Município onde Tatá Milhomem tenha sido bem votado, e tente explicar a qualquer morador local que O Nobre Deputado, com seus 35 mil votos, perdeu a vaga para o candidato Raimundo Louro que, antes cassado, obteve das urnas apenas 20 mil e poucas confirmações.

UM CORPO QUE CAI - II
Ainda em franca queda livre, a anônima candidata petista Dilma alterou seu perfil eleitoral a fim de parecer mais religiosa, negar as afirmações anteriores de posturas e opiniões que não seriam partilhadas por nenhum cristão. Entretanto, tardia, esta manobra parece não estar surtindo efeito, pois em pesquisa divulgada ontem CNT/SENSUS já aponta empate técnico e franco crescimento do candidato tucano José Serra.

COERÊNCIA
Enquanto a representante do totalitarismo oligárquico lulista Dilma muda de opinião e altera suas declarações com a mesma rapidez que cai nas pesquisas, o candidato José Serra, em uma nobre demonstração de maturidade política e respeito a todos, declarou-se totalmente favorável à união estável entre pessoas do mesmo sexo, na forma de contrato legal, confirmando, assim, o direito humano de ir, vir e decidir por si. Deixando o casamento como um julgamento próprio de fé, de cada Igreja e pessoa! Com suas orientações particulares, dogmas e valores.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Nossos Heróis de Verdade

Maranhão, nosso berço de heróis, nesta triste semana, tirana, que de luto, vemos a vitória da fraude e a glória do infame, ergo meus olhos para o céu, para adiante e o que vejo é o melhor, sim, o melhor! Pois temos ao nosso lado, tudo que os que são os verdadeiros inimigos desta pátria mãe gentil, Maranhão, não têm.
Somos nós os heróis!
Ainda que o resultado das urnas em 03 de outubro, desfavorável ao povo, a verdade sempre estará com os que a tem, e não com os que a escravizam.
Sim, escravizar a verdade, é disso que estou falando. Subordinar a realidade que se vê a um sistema de mentiras, mantendo a nossa gente em ignorância e desinformação, comprando votos ou mesmo uma eleição, saindo vitoriosos de uma disputa injusta não se compra ainda a verdade!
Não se compra a consciência de um povo, apenas o seu voto! Muitos talvez tenham sido comprados, não sei, não vi, mas vi muitas eleições, vi o suficiente para saber como as ruas reagem, como a população se vê e como o espírito da coletividade se manifesta.
Segunda-feira, 04 de outubro. nossa cidade amanheceu mais triste do que eu me lembro de tê-la visto em muitos anos, por mais incrível que possa parecer. Nuvens cobriram a cidade após meses de um sol torrencial que nos cozinhava até o pensamento. Nada se via de memoráveis “dias seguintes” pelos quais passamos após pleitos em que o destino da nação, do estado e de seus municípios era decidido.
Algumas poucas carretas ou seja lá como chamam aquele desfile de caminhonetes do ano, seus “campeões” acenando a um povo apático, frio. Essa não é a reação de um povo que escolheu o melhor, e sim a de um povo cansado e resignado.
Mas, esta resignação não pode durar para sempre. Não é da natureza deste povo de Beckman, deste povo de luta esta apatia.
Enquanto houver uma trincheira de luta (Jornal Pequeno, o grande Bogéa e seus legítimos e fiéis seguidores) para se combater o bom combate, a verdade não estará perdida de vez. Enquanto um só par de mãos empunhar uma bandeira em nome da liberdade, do desenvolvimento sustentável e da justiça social, o mundo ainda pode ter esperanças, pode crer que um mundo melhor virá.
Confio em nossos heróis e em um novo Maranhão. Confio que nossos verdadeiros campeões não nos deixarão; embora alguns tombem, sucumbam ao peso do fardo. É de se esperar que no decorrer de décadas e décadas, em prol da luta, tenham que deixar o campo de batalha e entrar no campo das idéias. É perfeitamente compreensível e necessário.
Entretanto, eu sei que nosso seleiro é bem maior do que eles pensam, e nosso solo é bem mais fértil de mentes do que se pode imaginar.
Enquanto houver um Marcos Silva que diga as verdades que doem, mas que são necessárias, haverá motivo pra crer no melhor.
Enquanto houver um Jackson Lago que abra mão de sua vida pela vida de um povo, haverá motivos para lutarmos todos juntos.
Enquanto houver um Flávio Dino que inspire nossa juventude e nos faça acreditar que o novo sempre vem, vestiremos vermelho, cantaremos um hino e sairemos às ruas.
Assim são estes homens Kamikazes, Mujahedins, Partizans, Cruzados, em nossa própria guerra santa, travada no campo das idéias, no campo das palavras, na eterna luta da verdade contra a mentira. Se doando, se entregando à uma causa, à nossas causas, à nossas coisas.

Enquanto houver Othelinos, pai, filho ou neto nunca lutaremos sozinhos sem um legítimo campeão. Enquanto houver um Novo, Um Nova, sendo gerado no ventre desta terra haverá esperança, de outro 04 de outubro, com o povo em festa a cantar:
...“ Apesar de você, amanhã a de ser um outro dia”...

O DIA EM QUE A TERRA PAROU
04 de Outubro passado não foi só um dia triste para o Estado, com a greve dos bancos e o descrédito geral da população no governo eleito para o Estado. As ruas desertas lembravam muito a antiga música do Raul, sobretudo a parte que diz “e nas Igrejas nem um sino a badalar, pois sabiam que os fiéis, também não estavam lá” E quem ainda tem fé no governo à esta altura?

A NOVA ASSEMBLÉIA
Como é de costume, a renovação da Assembléia Legislativa foi motivo de muitos comentários após a apuração das urnas. Renovação? Entre os cotados para assumir a presidência da casa, estão dois ex-presidentes e um monte de nomes batidos e revirados.

OTHELINO FILHO
O Jornalista Othelino Filho, que dá nome e assina esta coluna, estará ausente por algumas semanas para uma pequena cirurgia e uns merecidos dias de descanso com a família na sua querida Meruoca, próxima à sua não menos amada Sobral, “Princesa do Norte” do Ceará.
(*) Fabiano Soares (redator interino).
(**) A Coluna está disponível no BLOG DO OTHELINO: www.blogdoothelino.blogspot.com

E o Maranhão nesta História?

Manter a fé e a esperança em um futuro para as gerações seguintes, em nosso Estado, tem exigido mais do que um mero exercício de espiritualização ou de determinação. Significa realmente um grande esforço. Mas, crédulo como somos, forte como nos forjamos e confiantes como nos formamos, sabemos que nada de irrecuperável foi perdido neste recente pleito. É bem verdade que muito há que ser feito, e com urgência.
As publicadas, e não poucas, denúncias de mau uso do erário, da “Maquina do Estado” serão avaliadas pelo judiciário, Esperar do judiciário o fiel e imparcial cumprimento de suas atribuições constitucionais já é um caso à parte em nossos dias. E de fato essas decisões vêm dando frio em nossas barrigas em anos e episódios recentes.
Nossos paladinos utilizaram todas as tribunas, palanques, púlpitos e microfones disponíveis para que a desmesurada exploração dos apetrechos do Estado se tornasse de conhecimento público e fossem encaminhados aos órgãos competentes de controle de tais desmandos. Basta lembrar, entre outras, as denúncias do eternamente valente Aderson Lago sobre a utilização do Campus da UEMA; além de contas de água e energia a serem pagas por comitês políticos, notas de combustível distribuídas em carreatas e outras ações inerentes à este “modus operandi” da antiga e antiquada política maranhense, contra a qual lutamos. Tudo isso será avaliado pela justiça, e, esperamos nós, de acordo com a lei e atendendo ao interesse público.
Mas é a partir destes fatos que me pergunto como cidadão: E o Maranhão nesta história? Aflora-me à memória a antiga música de Luís Gonzaga, e imagino que vamos terminar o ano perguntando a mesma coisa: “setembro passou, outubro e novembro, já ‘tamo’ em dezembro, meu Deus que é de nós?”.
Enquanto os demais Estados da Federação evoluem em seus processos democráticos e na renovação política de seus cenários, nós ainda continuamos presos a grilhões invisíveis; atrelados em um complexo, mas não frágil sistema de poder, Os ricos Estados de São Paulo e Minas Gerais, ou mesmo os mais empobrecidos (iguais ao nosso, embora potencialmente o Maranhão seja tão rico) como o Rio Grande do Norte e Alagoas (que relegou o Ex Presidente da República Fernando Collor a um humilhante terceiro lugar), nós, aqui, ainda mantivemos, por algum tempo, mais cruel, nocivo e longo mandonismo da história brasileira. E não se diga que prevaleceu a democracia, quando são notórias as práticas oligárquicas.
Uma pirâmide bem estabelecida com um homem que se vê como um semideus em seu topo. Um polvo, como descreveu meu mestre Othelino, que estende seus tentáculos em tudo, e a tudo tenta abarcar.
No setor privado, no comércio, no mercado imobiliário, nas grandes empresas; já nas comunicações pode até mesmo bater no peito e dizer “sou o dono do Mar-anhão”. Salvem-se e ressalvem-se as nobres lutas de “Jornais Pequenos”, de “Grandes Jornalista”, o que se vê, por exemplo, é um imenso hiato entre a vida real do bairro da Ilhinha e seus ricos vizinhos do sistema mentira.
Na vida pública e nos cargos públicos, a fome deste monstro é mais voraz do que se possa descrever. Avança sem a menor cerimônia sobre o legislativo e nenhum pudor sobre o judiciário. Mas onde de fato quer chegar é no executivo; é para onde estão voltados seus olhos: Os orçamentos!
Precisamos recolocar nossa gente à frente de seu tempo, no justo lugar que nos reservou o destino, de Atenas Brasileira, de Seleiro-Mor, de Farol da Liberdade.

O MARANHÃO E A VERDADE
Porém, mais importante, neste momento que o resultado das urnas, não gerado no seio de um povo, mas nas ilhas de seus próprios inimigos, mais importante ainda que a repetida pergunta: E o Maranhão nesta história? É a certa e firme resposta dada pelo tempo dá aos que dele desdenham.
A vitória pertence aos que andam com a verdade e nela baseiam seus atos!

E O MARANHÃO NESTA HISTÓRIA?
E é por tudo isso, descrito neste artigo, que chegamos a este ponto de nos perguntar: E o Maranhão nesta história? Vivemos na vazante desta enchente. As denúncias acima citadas são uma prova disto, em um Estado Democrático e Republicano de Direito, isso chega a ser ultrajante. Viveremos, assim, eternamente relegados à subordinação a um pequeno grupo dominante? Não creio!

A MÚTUA INDIFERENÇA ENTRE UM POVO E SEU GOVERNO
Que a governadora (em seu mandato semi-biônico) se reeleja insultando a independência dos estudantes da Universidade Estadual do Maranhão, e a dignidade desta Instituição, já é por si só uma prova da indiferença deste governo por seu povo. Mas, aceitar que isto não seja levado a justa apuração nas justas instâncias me causa ainda pior mal-estar, por ser a prova da indiferença do povo pelo seu governo.

(*) Fabiano Soares (redator interino).
(**) A Coluna está disponível no BLOG DO OTHELINO: www.blogdoothelino.blogspot.com e no Blog Crônicas do Fabiano Soares www.saoluis-maranhao.blogspot.com

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O OUROBOROS MARANHENSE

De acordo com o site: Culto da Vida, que trata de mitologia e misticismo, o Ouroboros é “A serpente que devora a própria cauda, é um símbolo com mais de 3 mil anos, e que regularmente retorna à nossa consciência coletiva das mais diversas formas” .

Tratá-se de um ícone de auto-suficiência, mas também uma simbologia do infinito. É muito fácil olhar esta imagem e compreender que trata-se de algo sem começo nem fim, mas em diferentes culturas o Ouroboros também é crescimento, pois à cada volta, alimentando-se de si, o Ouroboros magicamente torna-se maior e mais poderoso.

- Não nos lembra algo?

Esta antiga figura mística me ajuda a explicar uma faceta de nossa história.

Há muitos anos o Estado do Maranhão, assim mesmo, com “E” maiúsculo e “M” maiúsculo como manda o figurino, porque a terra é boa, o bicho é que é feio, pois bem, essa terra vem se tornando cada vez mais pesarosamente a cauda que é comida por este “monstro mitológico”. Esse Ouroboros maranhense é uma entidade capaz de sobreviver a tudo e ressurgir mais viva do que nunca.

Bom, é claro que não estou falando dos que já partiram e permanecem vivos pela sua arte, como João do Vale ou Gonçalves Dias, ou de sua luta como Maria Aragão ou Padre Josimo, também não falo dos ainda encarnados que vivem em nosso Estado.
O Bicho de que falo reside atualmente com a cabeça em Brasília, o corpo no Amapá e ainda “Comendo a Cauda” do Maranhão!

É incrível analisar e admirar a capacidade quase messiânica que a oligarquia dominante no nosso Estado tem de manter-se viva após os mais improváveis reveses.

Sarney (bate na madeira) surge na nossa história como uma minhoca na hierarquia dos bichos que são ou parecem cobra (aliás, se tem algo de que ele entende é de hierarquia). Andando nos corredores do mesmo Palácio dos Leões, que seria seu domínio por 45 anos, ele começa a se alimentar de si mesmo, da sua rara capacidade de impressionar, do polimento lustroso de seu casco indestrutível, da gentileza de seus modos, da “qualidade” de sua oratória e da impressionante capacidade de articular, cada vez mais cresce e, já adaptado à desfrutar do próprio prestígio, começa a se aventurar pelos escalões federais.

É aí que assume definitivamente a forma do Ouroboros...

Golpe militar de 64!

A cauda (o Maranhão) que o alimentava, até então civil, democrática, trabalhista, getulista, passa ser uma cauda militar, “coturnista”, “hierarquista”, coronelista, e cada vez mais a pequena minhoca funcionária do Palácio dos Leões, alimentando-se de si torna-se mais e mais militar. Impressionante que, após décadas comendo coturnos, você via o Sarney (bate na madeira) de terno entre os fardados e não conseguia diferenciar nada, era igualzinho, era a mesma pessoa.
E assim foi sua primeira volta em torno de si. Saiu mais forte, maior, já não era possível calcular com facilidade a esfera de sua influência.


Mas, como toda entidade mitológica que se preze, e com a astúcia aguçada que sempre lhe ajudou a prever os fatos ele soube, bem antes dos outros, que o fim da era dos coturnos estava próximo, não era possível conter a mudança e, antes que os militares cedessem o poder, cá estava o Ouroboros da baixada maranhense de braços dados com Tancredo Neves, sendo eleito vice-presidente da República e com sorte de semi-deus que ele pretende ser, assume de forma ilegítima e imoral por 5 anos a presidência da República.


Essa segunda volta em torno de si foi mais rápida, porém, a que mais o fortaleceu. Seu alimento não era mais democrático, nem ditatorial; ele era o próprio poder agora, e na mais catastrófica gestão que o País já viu. Alimentando-se da fome e indigência alheias, ele cresce em patrimônio, em rede de comunicações, em influência no judiciário, em apoio empresarial. E o Maranhão, eterna cauda que lhe alimenta, cai na mais desgraçada fase de mendicância.


Após sair do poder, nosso Ouroboros ainda se alimenta do Neoliberalismo em moda na Europa, mas, sem muita força dentro do Governo de Fernando Henrique, volta-se mais do que nunca para solidificar a sua oligarquia no Estado, elegendo a filha governadora por duas vezes.

Com Lula na presidência tudo foi mais fácil. Sarney (bate na madeira) reassume a Presidência do Senado, nomeia ministros, garante apoios, compra apoios e exige apoios. E sobre essa história recente, pouco precisa ser dito; têm-se visto, para vergonha coletiva, o “companheiro” (me lembra o amigo da onça) pedir voto pra “Oligarquia da Serpente” como diria meu mestre Othelino.

Onde quero chegar com essa reflexão sobre Sarney (bate na madeira) o Ouroboros maranhense?
Quero chamar atenção para o fato de que a existência desta besta pode ser interrompida, que o seu crescimento pode ser detido.

Pouco me importaria se o seu alimento fosse a própria cauda. Se fosse só isso, que Deus o abençoasse e que crescesse até explodir, pouco ou nada me diria respeito. O que me importa é saber que essa cauda que está sendo comida é a nossa; que o alimento desse bicho é o meu e o seu suor; que o que falta em minha mesa e na panela da Dona Maria lá em Viana está na despensa desse monstro que nunca conseguimos matar de vez.

É preciso cortar esse ciclo, dar fim a essa interminável matança de nossa dignidade.
Querem sinônimos?

Esse ciclo de vida e morte, vida dele e morte nossa, é:

Assassinato de nossa esperança.

E viver sem esperança é como não viver.

Cortar a cauda ou a cabeça, findar o ciclo, interromper a renovação, não permitir que se complete outra volta, é nosso dever, sim, dever! Devemos isso aos nossos filhos. Precisamos entregar às gerações futuras um mundo livre, um Estado livre, um Maranhão com “M” maiúsculo, que não existe para alimentar nenhum monstro mitológico, e sim pra fazer de seus cidadãos Homens e Mulheres livres e prósperos.

Cabe a nós, Homens e Mulheres livres, confirmar em 2010 a decisão tomada em 2006 e roubada em 2009, quando, alimentando-se do próprio poder, esta criatura, que se renova ciclo após ciclo, nos roubou o governo que elegemos.

Não podemos subestimá-lo; não podemos baixar a guarda, piscar já é perigoso nesses tempos de eleições.

Quebrar um ciclo e começar outros e outros, deixar que a primavera suceda o inverno, que para o Maranhão foi inferno, enterrar essa serpente (não no Convento das Mercês, pelo amor de Deus) é mais que uma decisão política, é quitar um débito que não devemos transferir a nossos filhos.

É exigir de volta do Ouroboros, a cauda do Maranhão, que ele comeu...

sábado, 3 de julho de 2010

Julgamento do Assassino de Dorothy Stang

Gostaria de começar este relatório fazendo uma pergunta que passou pela cabeça de muitos dos meus colegas de viagem:

- O que um Luterano está fazendo aqui?

Pra esclarecer melhor as coisas a todos, quero primeiro esclarecer do que estamos falando.

No último culto celebrado em nossa comunidade, no dia 25 de Abril, a nossa Pastora: Franciele Sander perguntou qual de nós, estaria disponível para acompanhar o julgamento do mandante do assassinato da missionária cristã Dorothy Stang, homicídio tragicamente ocorrido no sul do Pará, na cidade de Anapú em 2005.

A viagem se daria em caravana com as irmãs de Notre Damme na noite de quinta-feira dia 29 e o julgamento na sexta, 30 de abril.

Empolgado com a possibilidade da viagem me prontifiquei a ir.

Voltamos então à pergunta que passava pela cabeça de muitos que viajavam comigo e outros tantos que conheci por lá, vindos de diversas regiões do norte e nordeste do país:

- O que um Luterano está fazendo aqui?


Gostaria de começar a responder com alguns versos de Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta marxista alemão.

Primeiro levaram os comunistas
Mas não me importei com isso, Eu não era comunista

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso, Eu também não era operário

Depois prenderam os sindicalistas
Mas não me importei com isso, Porque eu nunca fui sindicalista

Depois agarraram uns sacerdotes
Mas como não sou religioso, Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde. Agora estão me levando, Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.


Essa é apenas a primeira parte da importante resposta que devemos dar ao mundo como cristãos, e que eu devo dar como cristão luterano, Brecht nos diz em seus versos que defender os direitos dos outros é garantir que os seus próprios direitos não sejam desrespeitados pelos poderosos ou pelos usurpadores do poder, logo, lutar pelo cumprimento da justiça no caso Dorothy foi lutar pela paz no nosso país, lutar por nossos filhos, lutar por nosso povo.

E isso é apenas uma das coisas que um luterano fazia ali.

Mesmo com o atraso muitos de nós representantes da caravana do Maranhão, bem como os luteranos de Belém, conseguimos entrar no plenário do Júri, dessa forma me senti representado e abdiquei da disputa por uma vaga na fila em favor das irmãs de Dorothy Stang (suas irmãs religiosas, dos ruralistas e camponeses de Anapú e de representantes dos diversos movimentos que lutaram ao lado dela em sua vida e passagem pelo Brasil
As horas passavam e as notícias que vinham do tribunal eram confusas, desconexas, chegou-se a pensar no meio da tarde que o réu seria libertado por falta de provas, que havia um acordo entre a defesa e a promotoria, chegou-se a dizer que nada daquilo teria fruto e que mais uma vez não seria feita justiça.

Do lado de fora um potente carro de som colocado pela família de Regivaldo Galvão, o “taradão” como é conhecido no Pará o responsável, o mandante e mentor intelectual da morte de irmã Dorothy, este carro entoava hinos evangélicos na maior altura possível nos impedido até mesmo de conversar ou de tentar compreender as informações que nos chegavam de todo lado.

Nós, de nosso lado, com um humilde violão plugado em um Chevette 86 com pequenas caixas de som cantávamos as nossas canções, fazíamos nossas orações e nos motivávamos mutuamente como podíamos, revezando-nos no microfone do qual fiz uso por três vezes lembrando a nossa missão de sal da terra e luz do mundo, da nossa missão como cidadão e da nossa missão como homens e mulheres de bem.

Cantamos Geraldo Vandré,
Lembramos Martim Luther King em nossas camisas,
Declamamos Poesias,
Puxamos palavras de ordem,
Choramos, rezamos e cantamos por todo aquele dia...

Às sete horas da noite, completando onze horas de julgamento, as pessoas de nosso grupo que àquela altura era de algumas centenas recusavam-se a sair da fila mesmo para comer, tentando assistir ao último ato daquele espetáculo histórico.

Carros de todas as emissoras de TV, jornais e rádios com seus cabos, suas antenas, seus microfones e câmeras e equipamentos diversos nos cercavam. Não nos entrevistavam por que viam o rosto de irmã Dorothy em nossas camisas.

Por volta das nove horas ninguém mais entrava ou saía do tribunal, eram as últimas réplicas e tréplicas possíveis da defesa e promotoria.

De um lado o poder econômico dos fazendeiros do sul do Pará, os donos da terra, os reis do gado, os coronéis, aqueles que por séculos decidem a vida ou a morte nos campos brasileiros, os que mataram impunemente desde tempos remotos em nosso país.

Como mataram Chico Mendes, como mataram Padre Josimo, como mataram em Eldorado dos Carajás, como vêm matando, usurpando, roubando e mentindo.


Do outro lado freiras, padres, missionários e missionárias, mães sem terra, homens de mãos feridas do cabo das ferramentas, jornalistas de esquerda, funcionários públicos, profissionais liberais e homens e mulheres de bem, alguns pobres outros ricos, mas todos dignos, responsáveis apenas por seus pecados cotidianos, confiando apenas na justiça.

Diferentes credos e incredulidades, convicções e vocações, focando os olhos apenas em um objetivo comum, que os homens se manifestassem pela promoção do Reino de Deus na terra através cumprimento da justa justiça.


Entre esses dois mundos uma parede composta por sete membros do júri, imparcial e legitimamente representativo e legal e publicamente composto, decidiria que grupo sairia dali sorrindo ou chorando.


Perto das onze da noite o Júri se recolheu para deliberar, perdemos a noção do tempo, já não sabíamos mais há quanto tempo estávamos ali, há quanto tempo sem comer ou quanto tempo longe de casa.


O Júri retorna e o juiz lê a sentença:
- Culpado à pena máxima!



Levanto a cabeça para o relógio na parede do fórum, são 00h10min do novo dia, é primeiro de maio, é o dia do trabalhador, Dorothy teria gostado desse veredicto neste dia, Dorothy choraria conosco.


Do lado de fora nosso povo cantava:

Caminhando e cantando e seguindo a canção...
Cantavam xotes e baiões, carimbós e boi bumbás...

Um irmão da missionária assassinada vindo dos EUA se pronunciou agradecendo ao Brasil e aos brasileiros, falando em inglês, traduzido por alguém, os advogados também se pronunciaram, muitos agradecimentos e citações.


Justiça fora feita, mas eu já não cantava, encostado distante da luz das TVs que filmavam aquela pequena multidão em festa e dos frenéticos fotógrafos que disparavam flashes como tiros eu avaliava aquilo.


Todos ali fora comemoravam inclusive o Senador Jose Nery do PSOL do Pará, a quem agora devo minha admiração e exteriorizo o meu muito obrigado por ainda fazer parte da luta, mesmo com uma cadeira lá encima, no senado federal.


Eu ali, rindo um pouco da alegria de uma freira polonesa que dançava num trenzinho ao som de uma música de Alceu Valença, me veio a triste e incômoda certeza de nesse final não havia muito que comemorar.

Afinal, a missionária Dorothy estava morta, uma vida fora ceifada, uma militante fora calada, mais uma cristã havia sido martirizada...


Veio-me uma segunda consciência que prevaleceu sobre esta primeira (de que ninguém vencera), a consciência do dever cumprido.

Dever cívico?
- Talvez!

Dever religioso?
- Acho que sim!

Dever Humano?
- Certamente! Mas isso não diz tudo.

Dever divino?
- Sim, lutar pela preservação da vida humana pela manutenção da justiça e pela promoção do Reino de Deus, levando paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade.
No final das contas isso respondeu para mim a pergunta que eu respondi de tantas formas para os outros.


- Afinal de contas, o que um Luterano estava fazendo ali?


- Estava sendo aquilo que Cristo espera de um Cristão, sendo profeta ao denunciar as mazelas do mundo e diácono ao servir o irmão, sendo irmão ao servir o próximo e o próximo ao dar força ao irmão.

Além disso:
- O sangue dos mártires é semente, os ideais seguem vivo, o povo naquela praça, as pessoas órfãs de Dorothy precisavam de esperança e fé, e era isso que nós ali, juntos representávamos para eles.

Esperança e fé.


As pessoas continuavam comemorando, quando os avisos começaram a ser dados e o primeiro deles foi o de que o ônibus de São Luis estava na praça pronto pra partir, despedi-me de quem encontrei no caminho, abracei, cumprimentei, beijei rostos que mal conhecia.

Embarcamos naquela madrugada de 1º de maio todos cansados, muitos com fome, alguns com sono, mas nenhum, nenhum de nós, católicos, um protestante (eu), um agnóstico marxista (o jornalista ao meu lado, antigo companheiro de lutas), nenhum de nós voltou decepcionado.


Lembrei da frase de Luther King nas camisas:
- O que me assusta não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons!

Que bom que nós luteranos não ficamos calados, agora todos sabem, o que fomos fazer lá.

Como entoamos dezenas de vezes em Belém do Pará:

- Dorothy Presente...
- Dorothy Semente.

- Dorothy Semente...
- Dorothy Presente.

- Dorothy Vive...
- Sempre, sempre, sempre.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ai meu Deus, tem dó de mim!

Pro’nde que eu sou?
O que’u tô sendo?
Que tão me fazendo?
Como é que vou?


Você que vê da cidade
Não sabe do caranguejo a metade
Dessa lama que eu comi.
Não sabe da reza a vontade
Ai Meu Deus tem dó de mim!

Mas é roçando descalço que se colhe de alpercata
É parindo com dor que se gera um doutor
Eta medo pai-d’égua, eita vida medonha
É o medo do medo, é a vida é o velório


Pro’nde que eu sou?
O que’u tô sendo?
Que tão me fazendo?
Como é que vou?

Ainda tem você Menina
Sempre mal acostumada
A ser sempre bem amada, mimada
Não sabe o fim de quem ama gente ruim
Ai meu Deus tem dó de mim!

Mas é roçando descalço que se colhe de alpercata
É parindo com dor que se gera um doutor
Eta medo pai-d’égua, eita vida medonha
É o medo do medo, é a vida é o velório.



Fabiano Soares